quarta-feira, 3 de maio de 2017

Comunista, constituinte e exilado




Publicado originalmente no site MultiRio, em 19 Março 2012.

Comunista, constituinte e exilado.
Por Márcia Pimentel.

Foi em 1932, um ano após a publicação de seu primeiro livro, O país do carnaval, que Jorge Amado integrou-se à Juventude Comunista, setor do Partido Comunista Brasileiro (PCB) voltado ao movimento estudantil. Nessa época, ele dividia apartamento com o poeta Raul Bopp, em Ipanema, no Rio de Janeiro, para onde havia se mudado para estudar Direito.

O engajamento do jovem baiano não foi um ato isolado dentro do movimento literário. Nos anos 30 do século passado, vários escritores, artistas e intelectuais brasileiros já eram filiados ao partido – a exemplo de Rachel de Queiroz, a quem se atribui a aproximação de Amado ao PCB.  O “namoro” de artistas e intelectuais com o comunismo era, na verdade, um fenômeno mundial. A ameaça aos valores universais pelo nazifascismo impulsionava-os a colocar seu prestígio a serviço do debate político, contagiado pela utopia da sociedade sem classes da então recente Revolução Russa de 1917.

De acordo com o crítico francês Benoîte Denis, o contexto histórico daqueles tempos favoreceu a fascinação de grande parte do movimento artístico-literário pelas massas, sua cultura e movimentos de libertação. Tal fascínio se reverteu não apenas em temática de inúmeras obras, mas também na busca de construção de uma nova ética social. A postura de Amado não destoava desse quadro geral.

Prisões e exílios.

O engajamento político do baiano lhe rendeu muitas prisões, exílios e livros queimados. Acusado de subversão, foi preso pela primeira vez em 1936, logo após a Intentona Comunista organizada pela Aliança Nacional Libertadora (ANL), em novembro de 1935. Na época, Amado era redator de A Manhã, um dos principais veículos de divulgação da ANL, e integrava o corpo editorial da revista Movimento, do Centro de Cultura Moderna, que apoiava a entidade insurgente.

Com a onda repressiva deflagrada pelo Estado brasileiro após a tentativa de insurreição da ANL, Jorge Amado decide deixar o país. Faz uma longa viagem pela América Latina e pelos Estados Unidos durante 1937. Quando volta ao Brasil em novembro, ainda no desembarque, no porto de Belém, toma conhecimento do golpe de Getúlio Vargas e da decretação de sua prisão. Foge para Manaus, mas lá é preso novamente. Seus livros, considerados subversivos pelo novo governo, são queimados em praça pública, em Salvador. É solto no ano seguinte e em 1939, com a tortura de presos políticos e a desarticulação do PCB pelo Estado Novo, volta a intensificar sua atividade política.

Após sucessivas prisões e com a proibição do livro ABC de Castro Alves, publicado em capítulos pela revista Diretrizes, decide se autoexilar novamente. Mora no Uruguai, Argentina, França e União Soviética entre os anos de 1941 e 1943, e, quando retorna ao Brasil, tem nova prisão decretada. É solto após três meses, mas é obrigado a viver na Bahia. Em janeiro de 1945, participa, como chefe da delegação baiana, do I Congresso de Escritores, em São Paulo, onde passa a morar e onde conhece Zélia Gatai, com quem viria a viver até o fim de seus dias e com quem teria dois filhos (João Jorge e Paloma).

Com o fim da II Guerra Mundial, o desmantelamento do Estado Novo e a legalização do PCB, Jorge Amado é eleito, pelo estado de São Paulo, deputado à Assembléia Nacional Constituinte, em dezembro de 1945. É dele o projeto que garantiu a liberdade de culto e o fim da perseguição às manifestações religiosas afro-brasileiras. Além disso, defendeu com os demais constituintes comunistas vários outros pontos em favor das liberdades democráticas, como o direito de voto do analfabeto – que só viria a ser constitucionalmente reconhecido em 1988.

Radicalização e imortalidade.

Com a promulgação da Carta Constitucional em setembro de 1946, Amado passa a exercer o mandato de deputado ordinário como membro efetivo da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Mas o PCB é colocado de novo na ilegalidade e todos os parlamentares comunistas têm seu mandato cassado em janeiro de 1948. Amado parte para mais um exílio. Junto com a família, fixa residência em Paris, mas, por motivos políticos, o governo francês o expulsa do país em 1950. Vai para a então Tchecoslováquia e passa a viver no castelo da União dos Escritores.

Essa fase é marcada pela radicalização política de sua literatura. Em 1951, recebe o Prêmio Internacional Stalin de Literatura, em Moscou. Em 1954, publica a trilogia Os subterrâneos da liberdade, mas abandona a militância política no ano seguinte, com a divulgação dos crimes cometidos por Stalin pelos próprios soviéticos. Desde então, passa a dedicar-se somente à literatura. Em 6 de abril de 1961, depois  do estrondoso sucesso de Gabriela, cravo e canela, conquista a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras (ABL) e se torna imortal.  

Texto e imagens eproduzidos do site: multirio.rj.gov.br

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